De modo a melhor se compreender os efeitos dos campos eletromagnéticos de baixa energia é fundamental recorrer a estudos laboratoriais, pois nestes, mantendo os fatores ambientais externos sob controlo, é possível centrar a investigação no parâmetro físico que se pretende analisar. Os estudos laboratoriais que se efetuam têm como objetivo primordial estudar as causas e os mecanismos de efeito. É importante também referir que qualquer resultado alcançado terá de poder ser replicado por outros laboratórios antes que alguma conclusão possa ser tirada sobre o efeito em estudo. Posteriormente os resultados destes podem ainda indiretamente confirmar associações estatísticas resultantes de estudos epidemiológicos.
Ao longo dos anos, em relação a este tema dos CEM de baixa energia, a pesquisa laboratorial focou-se primordialmente no estudo da eventual influência destes na carcinogénese e no risco de má-formações. Todavia também se tem realizado outros estudos com o objetivo de averiguar se estes podem ter levar a outras patologias não cancerígenas, nomeadamente, na menor capacidade de reprodução, no desenvolvimento de doenças neuro-degenerativas…
CONCEITO DE EFEITO BIOLÓGICO
É importante referir que são considerados efeitos biológicos quaisquer mudanças mensuráveis resultantes de um estímulo proveniente do meio ambiente, o que significa que estes podem não ser obrigatoriamente adversos para a saúde. Por exemplo, praticar desporto moderado ou ler são atividades saudáveis que levam a efeitos biológicos.
Os organismos mais complexos desenvolveram mecanismos de regulação interna ou de ajuste para melhor reagirem as inúmeras flutuações do meios ambiente e assim aumentarem a sua capacidade de sobrevivência. Um efeito biológico pode assim tornar-se prejudicial à saúde quando um determinado animal for sujeito a um stress durante um longo período de tal ordem que torne o ajuste impossível.
MÉTODO CIENTÍFICO
Em relação ao método científico utilizado os estudos laboratoriais são, essencialmente, de dois tipos:
• As experiências, in vitro, em que se desenvolvem culturas de células de modo a utilizá-las como modelos biológicos simplificados que nos possam oferecer consequentemente a possibilidade de estudar em pormenor os mecanismos de ação. Uma desvantagem deste tipo de abordagem é o facto de o modelo biológico utilizado ser de tal forma simples que não possui os mecanismos de regulação permanente presentes nos organismos pluricelulares mais complexos.
• As experiências, in vivo, utilizam como modelo biológico animais em laboratório com o objetivo de investigarem os mecanismos do efeito a estudar sobre a saúde desse mesmos animais para posteriormente com os devidos cuidados extrapolar essas observações para o Homem.
O RESULTADO DOS ESTUDOS BIOLÓGICOS IN VITRO
Em geral, os estudos efetuados com o objetivo de averiguar as consequências da exposição das células a campos magnéticos de baixa frequência não mostraram nenhuma evidência clara da indução de genotoxidade, ou seja, não se observaram na maioria das situações alterações do DNA ou modificação dos seus mecanismos próprios de reparação, para intensidades inferiores a 50 mT.
Também se realizaram inúmeros outros estudos com o objetivo de compreender qual a influência dos CEMEBF (campos elétricos e magnéticos de extremamente baixa frequência) no reconhecimento celular e no sistema imunitário como ainda se estudaram a interação dos mesmos com células possuidoras de iões ou moléculas supostamente sensíveis aos campos magnéticos, tais como os cristais de magnetite. A generalidade destes estudos não estabeleceu uma relação clara entre a exposição aos CEM e a ocorrência ou desenvolvimento de tumores.
Muitos outros estudos deste tipo se realizaram com incidência, por exemplo sobre a proliferação celular, a apoptose, a comunicação intercelular, e não produziram até ao momento resultados conclusivos. Consequentemente não há atualmente nenhuma evidência objetiva da ativação dos genes associados ao controlo do ciclo de vida celular por parte dos CEMEBF. Todavia, a OMS recomenda a realização de estudos metódicos em que se analisem a resposta do genoma na íntegra de modo a chegarmos a um esclarecimento mais elevado sobre este tema.
O RESULTADO DOS ESTUDOS BIOLÓGICOS IN VIVO
Semelhantemente aos estudos in vitro, os estudos realizados em animais centraram-se na hipótese de a exposição aos CEMBEF poder causar ou induzir o surgimento de cancro. Igualmente se estudou a hipótese de existir um efeito copromotor, ou seja, que a interação dos animais com os CEMBEF levasse a gradação do efeito de carcinogénicos já conhecidos.
Foram realizados inúmeros estudos em grande escala a milhares de roedores que ao longo de toda a sua vida foram expostos a CEM, em que não se verificou qualquer aumento consistente de qualquer tipo de cancro, nomeadamente, tumores no sangue, mamários, do cérebro ou da pele, ou seja, não se observou qualquer efeito iniciador ou promotor do cancro.
Em relação ao estudo da hipótese de haver um efeito copromotor, foram utilizados animais com cancros induzidos por agentes carcinogénicos já identificados, como raios ionizantes ou algumas substâncias químicas. Depois estes foram divididos em grupos distintos e expostos a diferentes níveis de CEM. A maioria dos estudos que se centraram no desenvolvimento de tumores da pele, fígado, mama e sistema nervoso central, assim como em leucemias e linfomas, foram predominantemente negativos e alguns não proporcionaram resultados conclusivos.
Em síntese e recorrendo às inúmeras investigações em animais realizadas, quanto à primeira hipótese, não existe qualquer evidência de que a exposição a CEMEBF cause tumores. Por outro lado, em relação à segunda hipótese averiguada, também não foi demonstrada uma relação objetiva entre a exposição aos CEMEBF e o agravamento de tumores pré-existentes.
PATOLOGIAS NÃO-CANCERÍGENAS
Paralelamente também se têm realizado diversos estudos experimentais quer in vitro, quer in vivo com animais e pessoas combinados com estudos epidemiológicos com o objetivo de estudar a eventual influencia dos CEMBEF nas variadas patologias não-cancerígenas, nomeadamente em:
• Neuro-comportamentos, como a depressão e o suicídio;
• Sistema neuro-endócrino, fundamentalmente na produção de melatonina;
• Patologias neuro-degenerativas, por exemplo as doenças de Parkinson e Alzheimer, assim como a esclerose múltipla;
• Imunologia e hematologia;
• Reprodução e desenvolvimento.
Nos estudos relativos à reprodução e desenvolvimento, gerações inteiras de roedores foram geradas em campos eletromagnéticos fortes não tendo contudo se registado qualquer forma de anomalia da fertilidade ou aumento no número de má-formações dos roedores.
Da mesma forma em relação a potencial influência dos CEMBEF no desenvolvimento foram efetuados diversos estudos em distintos países em animais de criação como vacas, porcos e cavalos, e em cães e abelhas não se tendo registado qualquer anomalia no seu desenvolvimento.
Relativamente à eventual interferência dos CEMBEF no sistema neuro-endócrino, fundamentalmente na produção de melatonina, uma hormona existentes em praticamente todos os animais que age como um importante regulador dos ritmos circadianos e de proteção antioxidante do DNA mitocondrial. Igualmente foram efetuados inúmeros estudos que se centraram na secreção diária da hormona em questão, tanto nos animais como no ser humano. Decorrentes destes estudos apenas foram registadas algumas alterações comportamentais variáveis todavia reversíveis e sem consequências que inclusivamente apenas se registaram nos animais.
AVALIAÇÃO DE RISCOS POR PARTE DE ESPECIALISTAS
Em respostas ao constante desenvolvimento do conhecimento em relação aos efeitos dos campos eletromagnéticos na saúde e com o objetivo de este ser analisado de uma forma assídua, foi criada, por iniciativa de agências governamentais como também de companhias do sector elétrico, uma concertação de especialistas na matéria.
Consequentemente tem existido a possibilidade de tornar acessível ao público e geral uma complexidade de incontáveis dados reunidos sobre o tema ao longo das últimas décadas. Nos últimos vinte anos tem acontecido mais de uma centena de atividades deste tipo. As mais recentes são as da Organização Mundial de Saúde (OMS), em Genebra, do National Institute of Environmental Health Sciences (NIEHS), nos Estados Unidos, do National Radiological Protection Board (NRPB), no Reino Unido, da IARC (International Agency for Research on Cancer) e do ICNIRP (International Commission of Non-Ionizing Radiation Protection).
A IARC( The International Agency for Research on Cancer) classificou o campo magnético como “possivelmente carcinogénico”, em 2002. Decisão excessivamente motivada pelas associações observadas em estudos epidemiológicos relativamente à leucemia infantil. Entretanto os novos estudos realizados depois de 2002 concluíram que a associação entre os CEMEBF e estas doenças é incoerente. Logo é necessário analisar cuidadamente esses tais estudos epidemiológicos relativos à leucemia infantil que levaram a IARC à classificação do campo magnético como “possivelmente carcinogénico” e que tanto alarmaram não só a comunidade científica como a sociedade.
Imagem: João Abreu
Fontes:
http://www.centrodeinformacao.ren.pt/PT/publicacoes/Documents/ebook_ren/flash.html#/38/
https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/3779571786474/CEMEBF,%20saude%20publica%20e%20linhas%20de%20Alta%20Tensao.pdf
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